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Nutrição e Cancro

Nutrição e Cancro

O cancro é uma doença que se caracteriza pela proliferação anormal de células que, por terem sofrido mutações no seu ADN, se dividem descontroladamente e adquirem propriedades de invadir outros tecidos, durante esse processo de divisão. As células cancerígenas têm a capacidade de se espalharem pelo organismo, usando o sistema circulatório e linfático, dando origem a metástases (1).

Em condições normais, as células crescem e dividem-se para formar novas células e, no seu ciclo de vida, envelhecem, morrem e são substituídas por outras novas. Infelizmente, nem sempre este processo ocorre da forma esperada. Por vezes, formam-se novas células sem que o organismo necessite e, ao mesmo tempo, as células velhas não morrem, formando-se assim um tumor derivado deste conjunto de células extra. No entanto, é importante ressalvar que nem todos os tumores correspondem a cancro, podendo ser benignos ou malignos (1).

Estima-se, segundo a American Association for Cancer Research Report to Congress, que mais de metade dos cancros existentes se devem a causas evitáveis, entre elas a alimentação e a obesidade (2).

A prevenção é definida como a redução da mortalidade do cancro, através da redução da incidência do mesmo. Pode ser feita evitando um carcinogéneo ou alterando o seu metabolismo; adotando um estilo de vida mais saudável, juntamente com práticas alimentares que modifiquem os fatores causadores do cancro ou predisposições genéticas; intervenções médicas (ex: quimioprevenção) ou procedimentos cirúrgicos de prevenção de risco e através de estratégias de deteção precoce que podem resultar na remoção de lesões pré-cancerosas (ex: colonoscopia para pólipos colorretais) (3)

A nutrição é um importantíssimo fator modificável que pode alterar o risco de desenvolver cancro, pois vários componentes da dieta, incluindo o consumo de álcool, a não ingestão de frutas e vegetais e de fibra dietética têm vindo a demonstrar um impacto significativo no risco desta doença (4). Consequentemente, já foram desenvolvidas guidelines, por várias entidades que atuam na investigação do cancro e da nutrição, entre elas a National Comprehensive Cancer Network e American Society for Nutrition, para a prevenção desta doença, que destacam a importância da nutrição, composição corporal e atividade física para reduzir o seu risco.

As diretrizes da National Comprehensive Cancer Network para sobreviventes de cancro, enfatizam que a melhor fórmula para reduzir a recorrência do cancro é adotar um estilo de vida saudável, baseado em hábitos alimentares saudáveis, o controlo do peso, prática de exercício físico e eliminação de hábitos tabágicos, sendo que tem vindo a ser comprovado que indivíduos cujos comportamentos são consistentes com essas mesmas recomendações, têm menos risco de desenvolver a doença e morrer de cancro. Quanto mais cedo forem adotados estes comportamentos, maiores serão as chances de reduzir o impacto fisiológico dos hábitos não saudáveis que existiam anteriormente, assim como melhorar a qualidade de vida (2).

O estado nutricional de um paciente com cancro pode variar desde o momento em que a doença é detetada, sendo muito comum fazer esta deteção após uma perda de peso involuntária, até ao fim do tratamento contínuo. Para além de todas as alterações celulares que ocorrem durante o combate a esta doença, existem também os efeitos adversos dos tratamentos antineoplásicos que, dependendo do tipo de neoplasia e do tratamento utilizado, podem ter diversos efeitos tóxicos no organismo. Estes fatores em conjunto determinam alterações da composição corporal e, muitas vezes, do peso corporal dos doentes, levando em grande parte dos casos à desnutrição e, consequentemente, ao aumento da morbilidade e mortalidade (6,7).

Assim, surge então a grande importância do suporte nutricional nos doentes oncológicos, que tem como principal objetivo a promoção e manutenção do bom estado nutricional, ajudando a minimizar os efeitos secundários dos tratamentos antineoplásicos e aumentando a qualidade de vida e o prognóstico destes doentes.

Dependendo do tipo de cancro, do tratamento e dos agentes antineoplásicos utilizados, as reações adversas podem ser várias e afetando zonas diferentes, desde a má absorção e digestão de nutrientes, a náuseas e vómitos, dor abdominal, diarreia, estomatite, mucosite, esofagite, entre outras, sendo que todas estas reações têm um impacto nutricional significativo. Existem seis indicadores de potencial desnutrição, nomeadamente:

  • ingestão de energia insuficiente
  • perda de peso
  • perda de massa muscular
  • perda de gordura subcutânea
  • acumulação localizada ou generalizada de fluidos que, por vezes, podem disfarçar a perda de peso
  • estado funcional diminuído, medido pela força de aperto da mão

Se duas ou mais destas características estiverem presentes, o diagnóstico de desnutrição é garantido (6).      

Do ponto de vista clínico, a perda de peso significativa está associada a várias alterações metabólicas e hormonais, podendo refletir situações de caquexia neoplásica. Assim sendo, o suporte nutricional deve estar presente desde o início, pois é essencial para prevenir ou mesmo reverter a desnutrição, podendo ser realizado a diversos níveis, nomeadamente alimentação oral, entérica ou parentérica, de acordo com o estado do doente (6,7)

Hoje em dia, devido ao aumento mundial da obesidade, é importante ter uma atenção especial nos casos de cancro em indivíduos obesos, pois esta condição pode disfarçar a desnutrição (6).

Relativamente à prevenção do cancro, a World Cancer Research Fund recomenda:

  • Ser fisicamente ativo. Existem fortes evidências de que a atividade física nos protege contra alguns cancros, contribuindo também para a prevenção e diminuição do excesso de peso e obesidade, podendo assim contribuir para a redução do risco de cancros relacionados com essa doença.
  • Ter uma alimentação rica em cereais integrais, vegetais, fruta e leguminosas, diariamente. Este hábito saudável demonstra fortes evidências de proteção contra o cancro colorretal. Uma grande parte das dietas que podem contribuir para a prevenção do cancro são ricas em alimentos de origem vegetal.
  • Limitar o consumo de “fast-food” e outros alimentos processados, ricos em gordura, amido e açucares. Infelizmente, estes hábitos alimentares têm vindo a aumentar por todo o mundo, contribuindo para o aumento global do excesso de peso e obesidade e, consequentemente, de cancros relacionados com a obesidade.
  • Limitar o consumo de carnes vermelhas e processadas. Existem fortes evidências de que o consumo destas carnes está relacionado com o desenvolvimento de cancro colorretal.
  • Limitar o consumo de bebidas açucaradas. Para além de estas serem prejudiciais ao nosso organismo, em outras vertentes não relacionadas com o cancro, o seu consumo regular contribui para o excesso de peso e obesidade.
  • Limitar o consumo de bebidas alcoólicas. A ingestão de álcool é mais um importante fator referido como causa de vários cancros.
  • Não utilizar suplementos para a prevenção do cancro. Todos devemos fazer um esforço para satisfazermos as nossas necessidades nutricionais apenas através dos alimentos presentes na nossa dieta do dia-a-dia. Para além disso, não existem grandes evidências de que os suplementos, com a exceção do cálcio para o cancro colorretal, consigam reduzir o risco de cancro.
  • Relativamente às mulheres que foram ou que serão mães, aconselha-se, se tiverem essa oportunidade, a amamentar os seus bebés durante o máximo período de tempo, até aos 6 meses de idade. A amamentação é benéfica tanto para a mãe como para o bebé, podendo prevenir o cancro da mama e também ajudando no crescimento saudável da criança (5).

 

  1. National Cancer Institute, 2020
  2. Nutrition and cancer research: Resources for the Dietetics Pofessional. J Acad Nutr Diet, 2019
  3. Cancer Prevention Overview. PDQ Cancer Information Summaries, 2021
  4. Nutrition and cancer prevention. American Society for Nutrition, 2019.
  5. Cancer Prevention Recomendations. World Cancer Research Fund, 2021.
  6. Nutrition in Cancer Care: Health Professional Version. PDQ Cancer Information Summaries, 2022.
  7. Qual a Relevância da Nutrição em Oncologia?. Acta Médica Portuguesa, 2011.
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